quinta-feira, 1 de abril de 2010

PAUSA PARA GUTENBERG

Livros Eletrônicos Terão Vídeos e Ilustrações Dinâmicas

    O ano de 2010 será conhecido como aquele em que resolvemos aposentar o senhor Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg. Desconfio até que ao imprimir e encadernar o primeiro livro do mundo (a Bíblia, em 1439) olhou para a impressora e pensou: “Esse sistema deu certo. Mas logo vão inventar algo melhor”. Depois de 570 anos, o livro está igual. Mas o mundo finalmente se moveu. Primeiro foi a popularização do leitor eletrônico, o Kindle. Depois virá a provavel explosão de vendas do Ipad. O terceiro sinal eu acabei de ler no New York Times. Anne Rice, autora de Entrevista com o Vampiro está preparando a edição eletrônica “reforçada” do novo The Master of Rampling Gate. Não será um “book”, mas um “vook”-um vídeolivro. A empresa que o produz se chama Vook e faz livro para computadores e Iphones.
    O The Master of Rampling Gate manterá a concepção do livro eletrônico, com letras e ilustrações. Mas incluirá uma entrevista em vídeo com a atura e um passeio por Nova Orleans (Cenário do conto) com seu filho, Christopher. Como ela disse, “estamos no meio de uma revolução”. Para quem tem imaginação, as possibilidades são infinitas- ilustrações dinâmicas, música, narração simultânea .Gutenberg pode enfim passar o resto de seus dias com a gratidão dos humanos. Feliz porque, quase seis séculos depois da sua Bíblia, damos um passo a frente.
    Aliás, li a notícia no Times Reader, que aponta um bom caminho para os jornais superarem a era do papel (acho que as edições tradicionais continuarão existindo, mas vendendo cada vez menos). Existem outros leitores de jornais eletrônicos, mas nenhum tão bem-sucedido quanto o Times Reader. Você consulta o New York Times quase inteiro, de graça. Mas o ato de “ler o jornal” se perde. A web é a mais dispersa das mídias. A tendência é que você leia o que interessa e pule a maior parte dos textos. Isso nos empobrece. Passar os olhos pelo jornal sempre nos obrigou a ampliar os horizontes de realidade.
    Por 13,80 dólares por mês(cerca de 25 reais) você recebe o NYT inteiro no Times Reader. Outros jornais(inclusive no Brasil) procuram fazer uma imitação do ato de ler-mostrando páginas inteiras viradas em animação. O Times Reader “remasteriza” o jornal. Esquece a versão de papel. Cada noticia é lida separadamente. Com dois dedos você folheia (olha o termo analógico!) o jornal todo. Seta para baixo, lê a próxima pagina do texto. Para a direita, outra matéria. As últimas seis edições ficam a disposição. Há “cadernos” de fotos e vídeos e uma seção de palavras cruzadas realmente pensada para a era digital.
    Minha teoria para a nova era de leitura digitalizada é: quanto menos imitar o papel, melhor. Quanto mais for pensada digitalmente, mais rápida será a mudança. Os conservadores, que seguirão fiéis aos livros impressos com tinta e costurados com linha, serão cada vez menos. O resto de nós deve apertar os cintos porque a aventura mal começou.

Escrito por Dagomir Marquezi
Matéria retirada da revista info março/2010

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